19 de fevereiro de 2009

Foi quando numa sexta.

Foi quando numa sexta, eu resolvi sair de minha casa, que havia se tornado um tanto quanto insuportável, não pelas pessoas que ali viviam, mas pelas paredes que estavam se tornando cada vez mais espessas. Tudo em minha casa tinha e me lembrava muito eu. O que encontrei fora de casa foi, infelizmente, desconforto: Eu agora era o próprio desconforto a não ser pelo fato de que isso me incitava a procurar um lugar onde me sentisse acolhido pelos braços da segurança.
Pareceram-me confortáveis os bares, mas eu não era tão boêmio, procurei o conforto então nos livros, mas não achei um autor compatível com o meu estado de ânimo, procurei nas ruas do centro da cidade, nas pizzarias, nas danceterias mais refinadas, nos psicólogos mais renomados, nos teatros, nas universidades, nas casas de mulheres-mercadorias que ainda guardavam em si um sentimentalismo puro, nas reuniões familiares, nos velórios e nos concertos, nas padarias e avós.
O tempo urge, e não espera a boa vontade do corpo em se completar em um lugar confortável, e meus dezoito anos me exigiam um retrato para o alistamento, uma foto 3x4. Depois de aceitar o preço, fui enxotado num cubículo branco que cheirava nostalgia, numa pose não tão natural, engessado, sério e um tanto embaraçado. Veio o click, com flashes atordoantes. O fotógrafo assustado disse: “ué, estranho.”, paguei, peguei as fotos, curioso fui ver meu auto-retrato. Nele só havia paredes brancas, e por mais oco que estivesse eu naquele momento, não havia ainda, me transformado num vampiro.
Já não havia em mim um pouco de dor, nem mesmo uma sensação agradável. O que havia dentro de mim era cada vez mais vago, eu me esvaziava a cada dia e na procura frustrada por conforto deixei de notar que lentamente, quase que de modo imperceptível (talvez pelo fato de que minha percepção já tivesse de malas prontas) meus dedos estavam menores e meu cabelo havia se perdido nesse caminho, meus joelhos estavam tocando o chão e foi de tal modo, o desaparecimento, que quando minha cabeça já rolava no sofá percebi que eu estava sumindo. Eu não mais estava lá

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