2 de junho de 2009

Do mesmo rio

Quantos dias se foram por entre esses sinuosos rios que correm e se arrastam, que amam e que torturam. Por este rio que é tão só e tão sublime, tão suave e que nikofuji retrata pelo olhar simples, humilde e teimoso. Um olhar profundo escuro, que escorre segredo e teimosia numa quarta feira mais ou menos quente: Não tão quente, mas digna de um mergulho. Longe do caótico ritmo dos monofônicos timbres das máquinas, se despiu de toda a fumaça que exalavam as aborrecidas chaminés. Nu, imerso numa água que também não é pura, mas que traz consigo a inocência de quem não machuca, sem ser antes desafiada.
Um pé após o outro, respeitando a calma que tinha o rio naquelas cinco horas, e os pelos, de arrepio sentiam já um pouco do frio que passaram por aquelas águas na noite. O mais difícil, mergulhar o tronco, visto que as pernas finas já se afogavam no solo movediço destes rios selvagens, e mais ou menos rápido o corpo já estava por completo imerso na densidade gelada daquele rio tão azul escuro que não se via fundo. Finalmente a apreensão de sozinho mergulhar numa quarta feira brava que ficava cada vez mais mansa e azul, se foi.
Se Niko fosse uma cor, seria azul, se fosse um animal, provavelmente, ah..., nunca tinha pensado em ser um animal, se fosse uma planta (quantas bobeiras nos atormentam quando nos esforçamos pra não pensar em coisa alguma.), mas era como se por debaixo d’água sua mente também se transbordasse desta mesma água, e os pensamentos não mais obedientes, como de costume, seguiam correndo sem ordem, num fluxo desordenado e azul. O corpo pelado, sendo lavado pelo rio, sem destino sem rotinas, num suave flutuar, sem deveres de casa nem provas semestrais. Pelo menos nesta quarta, mais vale ser molhado que vestido.
Uma música, que não retorne nunca aos refrões, e Niko fechava seus olhos, repetindo o movimento exaustivamente repetido ao ver sua mão boiando nas piscinas por todos esses calejados dezesseis anos. Flutuar pelas ondas e marolas, deixando a memória, como uma aquarela se diluir nessa água, agora um pouco mais marejada. Os tênis já haviam ficado nas franjas dos rios, o uniforme já não mais fazia parte de nenhuma parte de Niko, As sensações que sentia na correnteza não foram tão fortes para descolar uma pálpebra da outra, e o corpo pequeno perante o movimento intenso do rio começava a parecer sujeito a todas as vontades do azul, sujeito a qualquer vontade desse, que mesmo assim parecia terno no trato com o corpo.
Quando, já satisfeito com aquela paz que o rio lhe trazia, Niko preguicosamente abriu seus olhos molhados, e se viu numa velocidade, relativamente alta boiando correnteza abaixo, e perguntou: Não se canse desta dança!


O rio então respondia: Qualquer dança que seja livre é digna de estourar encostas e barragens

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